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Ilka Lemos: gestos denunciantes 

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Ilka Lemos produz desenhos, pinturas, fotografias, esculturas, instalações e peças têxteis, transitando com destreza entre os variados suportes e materiais. Essa é sua porta de entrada para tratar dos assuntos difíceis da vida que nos afligem diariamente, tanto na esfera do indivíduo, quanto do coletivo.

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A abordagem do feminino destaca-se na poética da artista e há uma presença que a acompanha desde o princípio de sua práxis: a Lilith mitológica. Instigada pela série de pinturas e composições “Lilith” (1987-1990), de Anselm Kiefer, Ilka adentrou uma pesquisa de vida em 1998. Lilith é a personificação da primeira mulher de Adão que não permitiu a submissão. Ela carrega, em sua essência, dualidade e vem a representar a destruição e, ao mesmo tempo, uma força implacável de criação.

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Essa figura paira sobre o fazer artístico de Ilka. Ela se transforma e desdobra em “Viejas” (2022), sua série de retratos femininos da velhice; em esculturas de mulheres grávidas e acorrentadas, como em “Se te queres matar” (2011-2023); nos “Derrames”, “Coágulos” e “Rios Flutuantes” (2023), feitos por milhares de nós de crochê que escorrem e vazam; nas fotografias esmaltadas, “Linhas Amazônicas” (2023); em seus objetos apropriados e incorporados, e em suas outras obras e materialidades. A artista faz, das linguagens artísticas, a linguagem de sua vida.

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O que vemos sendo reafirmado em sua pesquisa artística são as forças e energias vitais: a água, o sangue, a mulher. Os traços únicos de Ilka Lemos revelam proteção, sofrimento, êxtase, libertação, exaustão e entrega. Nessa briga contra o tempo e, concomitantemente, na aceitação do próprio tempo, o que resta? O corpo, sublime. Em decomposição. Em elevação. 

 

Latife Hasbani

Maio de 2024

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